Publicado em segunda-feira, 30 de agosto de 2010 às 16:28
Um desabamento bloqueou a galeria de acesso de uma mina em Copiapó, a 800 km de Santiago, no norte do Chile, após um desmoronamento no dia 5 de agosto, a 300 metros de profundidade. 33 mineiros ficaram presos. Em meio a uma situação de grande tensão, a Igreja Adventista chilena se movimentou para levar esperança.
Em meio à dificuldade de comunicação e a falta de previsão de uma data para que os mineiros sejam resgatados, a angústia dos familiares e, obviamente, dos próprios mineiros isolados causou uma verdadeira comoção no país.
A Igreja Adventista tem acompanhado e procurado dar assistência a todos os envolvidos. Uma das últimas iniciativas foi o envio de Bíblias com textos marcados para os mineiros soterrados – Bíblias minúsculas, que puderam passar pela cânula que tem servido de meio de comunicação entre os homens isolados e os que estão trabalhando pela sua libertação.
A iniciativa adventista foi comemorada e noticiada em vários veículos de comunicação, dentre eles estão diversos jornais chilenos, programas como o “Fantástico”, da Rede Globo, no Brasil, o jornal americano “The Washington Post” e o jornal britânico “The Guardian”. A Folha de São Paulo também dedicou amplo espaço para a notícia. Leia texto a seguir.
“”Santos”, mineiros isolados são adorados no deserto do Chile
Laura Capriglione
Enviada especial a Copiapó (Chile)
O pastor Carlos Diaz, 43, chega ao acampamento Esperanza com uma carga especial de Bíblias em miniatura. Cada livrinho só pode ter até 8 cm de largura.
É essa a medida do diâmetro da maior das sondas que está sendo enviada (por um túnel escavado na montanha) aos 33 mineiros encarcerados desde o dia 5 de agosto a 700 metros de profundidade, na mina San José.
O pastor encomendou uma Bíblia para cada um dos 33, deu-se ao trabalho de usar marcador amarelo fosforescente nas passagens mais importantes (“aquelas em que parece que Deus fala diretamente a respeito das angústias de viver dentro de uma caverna fechada”), e entregou-as ao coordenador de segurança da operação de resgate, Jorge Sanhueza, gerente de Sustentabilidade da estatal do cobre do Chile.
Ele encaminhará terra adentro, até os mineiros, as “palavras divinas”.
As imagens divulgadas anteontem, feitas dentro da caverna em que os 33 mineiros estão presos, mostraram-os com os olhos brilhantes, sofridos, barbados, enfraquecidos, magros, despojados de tudo -até da luz física. “Quase santos.”
“Jesus também teve seu retiro de iluminação espiritual dentro de uma caverna”, lembra Diaz, capelão da Igreja Adventista do Sétimo Dia. O Chile usa só uma palavra para se referir à sobrevivência de todos os 33 mineiros desaparecidos no dia 5 (e sem nenhum ferimento, diga-se): “milagre”. E o número 33 apareceu com um signo de bem-aventurança: era essa a idade de Cristo ao cumprir seu desígnio divino.
Notou-se que o número 33 também apareceu no total de letras da primeira mensagem enviada à superfície pelos soterrados, no dia 22: “Estamos bien en el refúgio, los 33″. No original, são 33 caracteres contando os espaços. Bingo!
Esperança
Não faltam profetas, santos, orações. Já nos primeiros dias da formação do acampamento Esperanza, quando ainda não se sabia se os homens estariam vivos sob a terra, uma estátua de Santo Expedito, 1,60 m de altura, capacete vermelho de mineiro na cabeça, surgiu para decorar o refeitório.
O acampamento Esperanza foi a forma que os parentes dos mineiros encontraram para juntos pressionarem as autoridades. Não demorou, e chegou uma imagem de Nossa Senhora da Candelária, “mãe dos mineiros e do povo do Atacama”. Pequenos altares familiares se instalaram por todo o acampamento.
Na tenda ocupada pela imprensa internacional, todos os dias, às 18h, acendem-se velas sob uma imagem de Cristo e da Virgem Maria.
Santo, entretanto, para o eletromecânico Edison Peña, 34, só Elvis Presley. Fanático pelo cantor de “Love me Tender”, Peña é um dos mineiros confinados. Ele não sabe uma só palavra de inglês.
“Mas isso não o impede de cantar tudo de Elvis, ele recria o inglês do seu jeito”, diz o tio, Oscar Peña, 68.
Desempregado na capital, Peña topou ir trabalhar na San José há seis meses. Logo, percebeu que a mina estava para desabar. Pediu as contas e voltou para Santiago. Ficou um mês. “Dobraram o salário dele [para os R$ 1.400 atuais], e ele voltou para a mina”, lembra o tio.
No Chile, nenhuma outra profissão remunera tão bem operários semiescolarizados. “É o dobro do que ganha um operário tão desqualificado quanto, mas em outro ramo de atividade”, conta a mãe de um dos soterrados. “O que eles remuneram é a coragem”, explica.”
Fonte: Equipe ASN – Márcia Ebinger
Carinho e amor
Fernanda.
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